domingo, 3 de janeiro de 2010
UMA BÊNÇÃO CHAMADA ARREPENDIMENTO
(Reflexões teológicas e práticas sobre uma fundamental doutrina das Escrituras Sagradas)
Introdução
Creio que os meus nobres e gentis leitores já perceberam que nos anos mais recentes a palavra arrependimento tem se tornada escassa nos púlpitos sagrados.
Parece que um novo Evangelho se está introduzindo nas mensagens, bem como na hinologia do Povo de Deus.
Parece ainda que todos estão bem com Deus e nada precisa mudar, a não ser a condição financeira e o status social.
Segundo o que se alardeia por aí, Deus parece estar mudando Sua maneira de ser no que diz respeito ao pecado é hoje diferente do que era no passado e começa a desaparecer a necessidade de quebrantamento, de humilhação e de arrependimento.
Não será demais lembrar que a fé não anula esses elementos vitais e indispensáveis á salvação do homem perdido.
A raça humana continua perdida, a salvação continua a depender da confiança total no sangue de Cristo e o que Jesus declarou não perdeu sua atualidade, muito menos sua veracidade: Se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.
Como declarou o Rev. Max Nunley, pastor da Bible Way Baptist Church em Deming, NM, EUA, “a Palavra de Deus nos ensina que Deus ordena o arrependimento no século XXI como Ele fez no primeiro. Se a alma não se arrepender, será condenada, e condenada para a eternidade.
Apresento a seguir um esboço da doutrina do arrependimento, segundo as Escrituras Sagradas, na esperança de que venha a merecer alguma atenção dos pregadores que estão oferecendo salvação sem cruz, sem arrependimento e sem renuncia.
I. SIGNIFICADO E IMPORTÂNCIA DA PALAVRA ARREPENDIMENTO
a. Dentre os muitos eruditos que apresentam definições consistentes para o vocábulo arrependimento, destaco J. A. Alexander. Em seu livro THE GOSPEL OF MARK nos informa que esta palavra é derivada do verbo grego metanoeo, que significa mudança de pensamento e está associado a reflexão, contemplação, mudança de mente e de sentimento, sobre aspectos morais, com referencia particular ao caráter e conduta do próprio penitente.
b. Além dessa citação, julguei oportuno mencionar o que escreveu P. J. Gloag, em seu livro A Critical And Exegetical Comentary On The Acts Of The Apostles, vol. 1, p. 109: "O verbo metanoeo não deve restringir-se apenas à mera tristeza pelo pecado – o arrependimento no sentido de contrição; mas implica uma mudança de pontos de vista, de pensamento e de propósito, e uma conseqüente mudança da predisposição - arrependimento no sentido de conversão."
c. Por outro lado, no Antigo Testamento, para expressar a idéia de arrependimento são utilizadas as palavras "shuv" - "virar para trás, voltar" e "nicham" - "arrepender-se". É uma mudança sincera e completa de opinião e disposição (propensão, inclinação) com respeito ao pecado.
d. O que não significa arrependimento.
i. Arrependimento não significa mera tristeza. É muito fácil ficar triste sem que haja qualquer arrependimento. No entanto, o apóstolo Paulo faz menção de uma tristeza que opera para o arrependimento, II Co 7.10. Isso somente acontece como ação direta do Espírito Santo. A tristeza segundo Deus se contrapõe à tristeza segundo o mundo.
ii. Arrependimento não pode ser mera emoção. Existe um sem-número de situações na vida que geram emoções dentro de nós e a maioria delas não tem qualquer relação com uma postura de arrependimento ou de quebrantamento e humilhação.
iii. Arrependimento não é uma manifestação de medo, pavor, temor, terror ou horror. Muitas pessoas sentem profundo medo de sofrerem punições, entretanto o seu interior às vezes não experimenta o menor sinal de arrependimento verdadeiro.
iv. Arrependimento não significa ignorar o erro ou admitir que o tempo poderá vir a anulá-lo. O mundo espiritual não está sujeito ao tempo, de sorte que não existe uma “anistia pelo tempo”, como alguns pregadores parecem sugerir aos seus ouvintes.
v. Arrependimento jamais pode estar limitado a um pedido de desculpas. Desculpas se situam no plano horizontal, enquanto arrependimento é inerentemente vertical, pois é dirigido para Deus. Se somente Deus pode perdoar pecados (At 3.19), somente a Ele deve ser encaminhado o nosso arrependimento. Mesmo que nos arrependamos de algo cometido contra nosso irmão, precisamos de Deus para a consolidação do perdão que nos será outorgado.
vi. Por haver desprezado seu direito de primogenitura, Esaú não achou lugar de arrependimento, embora , com lágrimas, o tivesse buscado, Hb 12.16,17. Gn 27.
vii. O arrependimento não é completo e final em si mesmo. Ele precisa ser seguido imediatamente pela conversão. Enquanto arrependimento é mudança de pensamento, conversão é mudança de direção. Por isso Pedro exortou aos seus ouvintes: “Arrependei-vos e convertei-vos...”, At 3.19.
viii. Volto a citar os eruditos na língua grega, para dizer que eles mencionam um outro verbo que ocorre na Bíblia e que é traduzido por arrepender-se. Refiro-me a metamelomai. Segundo A T Robertson (Word Pictures), esse verbo ocorre no N. T. apenas cinco vezes (Mt. 21:29, 27:3; II Co. 7:8; Hb 7:21 de Salmos 109:4). E acrescenta que Paulo distingue claramente o que é mera tristeza do ato do ‘arrependimento’, o qual chama de METANOIAN (II Co 7:9). No caso de Judas (Mateus 27:3) foi mero remorso"
e. O Significado positivo de arrependimento
i. O arrependimento significa mudança de opinião, sentimento e vontade a respeito do pecado, Jó 42.5,6; II Co 7.9,10, Mt 21.28,29.
ii. Em sua primeira das 95 teses fixadas em 31 de outubro de 1517 na igreja do Castelo de Wittenberg, Lutero chamou a atenção dos fiéis para que demonstrassem uma vida de arrependimento, baseando-se em Mt 4.17: "Arrependei-vos, porque está próximo o reino de Deus".
II. EXORTAÇÕES AO ARREPENDIMENTO
a. As pessoas devem se arrepender porque o pecado distancia a pessoa de Deus, em virtude de Sua absoluta santidade.
b. No AT Deus exige de Israel que se arrependa, Ez 14.6.A ausência de arrependimento gera iniqüidade e esta por sua vez provoca tropeço na vida espiritual, Ez 18.30.
c. O arrependimento sempre fez parte das condições divinas, impostas para que Israel alcançasse um estágio de reavivamento, II Cr 7.14.
d. Arrependimento foi o tema central da pregação de João Batista, Mt 3.1,2. Seu batismo é chamado de batismo de arrependimento, Mt 3.11-15. Jesus foi a exceção.
e. Jesus pregou muito o arrependimento, Mt 4.17; 11.20; 12.41, etc. ”Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento." Mt. 9.13. Na Grande Comissão Ele também enfatizou a pregação do arrependimento, Lc 24.47.
f. Os discípulos pregaram sobre o arrependimento, Mc 6.12.
g. Esse foi um tema nas pregações da Igreja Primitiva, At 2.38; 3.19; 5.31; 8.22; 11.18.
h. Paulo pregou o arrependimento, At 20.21; 26.20; II Co 12.21; II Tm 2.25.
III. NOTÁVEIS EXEMPLOS DE ARREPENDIMENTO NO AT
a. O rei Davi, Sl 51.
b. O rei Manassés, II Rs 21.1-8; iI Cr 33.11-16.
c. A população de Nínive
IV. NOTÁVEIS EXEMPLOS DE ARREPENDIMENTO NO NT
a. Zaqueu, Lc 19.1-10.
b. O filho pródigo, Lc 15.21
V. EFEITOS PESSOAIS DO ARREPENDIMENTO
a. A fé em Cristo e o direito ao batismo em águas, At 2.38-39.
b. Ele abre a porta para o sucesso espiritual, Is 55.7, visto que ele conduz à fé genuína, Jo 5.24, que leva à entrega total, Sl 37.5. Esta, por sua vez, produz a plenitude do Espírito, At 2.38 que confere acesso à plena posse das promessas divinas, II Pe 1.4.
c. O arrependimento predispõe a pessoa a ser um verdadeiro adorador. Como disse o pastor Ron Owens, “as pessoas precisam reconhecer que estão perdidas, e voltar-se a Deus em arrependimento pelos pecados, para que se tornem recipientes do seu dom de vida eterna. Naquele momento, se tornarão adoradores de Deus. A adoração continua durante toda nossa vida cristã aqui na terra, e continuaremos a adorar no céu por toda a eternidade”.
d. O arrependimento permite aprofundar nosso estado de vigilância, como o Senhor explicou à Igreja em Sardes. A Bíblia confere muita importância à vigilância, Mt 26.41; I Pe 5.8; Mt 24.42,43; 25.13; Lc 12.37-39; I Co 16.13; I Ts 5.6. Ef 6.18; Cl 4.2.
e. O arrependimento nos faz retornar à prática do primeiros amo, como lemos na Carta à Igreja em Éfeso.
f. O arrependimento abre as portas para um genuíno avivamento, cujo fundamento está firmado em três fatores indispensáveis: estudo da Bíblia, oração e arrependimento. Certo pregador declarou que “arrependimento sem um confronto com a Palavra de Deus é impossível, pois é a Bíblia que nos mostra nossas falhas, enquanto o Espírito Santo nos convence”.
VI. ELEMENTOS QUE ACOM PANHAM O ARREPENDIMENTO
a. Confissão de pecados, I Jo 1.9
b. Temor a Deus, como acontecia na Igreja Primitiva e como aconteceu com Davi.
c. Conversão, At 3.19
d. Fé, At 2.38-39; Mt 21.32; At20.21
e. Aceitação, Mt 8.2. Jo 6.42; At 4.12
f. Adoração, l Rs 8.33
g. Quebrantamento, II Cr 6.26.
h. Afastamento do pecado, Lc 15.18-20. Quando o arrependimento toca a vontade, ele produz três resultados excelentes: confissão do pecado, abandono do pecado e volta para Deus.
i. Abominação pelo próprio eu, Jó 42.5,6.
Conclusão. O verdadeiro Evangelho inclui arrependimento, perdão e salvação. Se e quando um destes 3 pilares é anulado, deixa de ser Evangelho e já não se não identifica com a salvífica Obra do Filho de Deus entre os homens.
Deus nos ajude a conservar uma bênção chamada arrependimento.
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